(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC

(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC
(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC. Saiba como adquirir o mais novo livro de Vinícius Silva clicando nesta imagem

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A comum história de um casal comum, por Carla Lemos


Caía uma chuva fina quando uma jovem senhora chegava em casa carregando suas compras do supermercado. Já perto de casa, na subida do morro, por conta do peso e da água, a sacola se rasga, e os produtos se espalham pelo chão. Vendo a cena, um rapaz moreno, não muito alto, mas bonito e sensual, se prontifica a ajudá-la cheio de segundas intenções. Calma... ele não estava de olho na senhora e sim em uma de suas três filhas, para ser mais exato, a filha mais velha.


Gentilmente, ajuda àquela senhora a recolher o que estava no chão e a acompanha até em casa, um pouco na esperança de conhecer a moça. Infelizmente, ela não estava. O encontro fora adiado por alguns dias.

Dias depois, o mesmo rapaz estava em um bar, quando a moça passou voltando da escola. Ele a acompanha até em casa, sem que ela soubesse, na surdina. Percebendo que alguém a estava “seguindo”, ela apressa o passo, pensando não se sabe bem, se fugia ou despistava o acompanhante. Ele percebeu o que estava acontecendo e se apresenta:

- Oi, eu sou o rapaz que ajudou a sua mãe essa semana!
-Hã?
-Sua mãe, com as compras.
-Ah...oi.

Pronto!

Foi o suficiente.

Era meados de 79 e Pedro passou a freqüentar quase que diariamente a casa da família, tentando, digamos... estreitar os laços. E ela, Cecília, mais conhecida pela família e amigos como Cecí, já tinha um namorado.

Pedro era tímido... não conseguia se aproximar, ou falar o que queria com ela. Ela percebia, mas fazia aquele ar “não-tô-sabendo-de-nada”.

Quando seu antigo namoro acabou, e uma chance apareceu, Pedro começou a se despedir da menina de maneira um pouco mais íntima: três beijinhos bem no cantinho na boca. Ah, se ela não desvia...!

Mas um dia, não se sabe se tomada por torcicolo que não permitia a movimentação da cabeça, ela não se esquiva, e o beijo tão esperado por aquele rapaz, acaba por acertar o alvo.

-Tchau.
-Tchau?
“Como assim?”, ela pensa. “Eu deixo ele me beijar e só isso? Tchau?”. Antes de terminar o pensamento da frase ele voltou, a agarrou e...mmmmmmuuuuuuaaaaaaaccccc!
Logo em seguida, a pergunta:
-Quem fala com a sua mãe, você ou eu?
E a resposta: -Hã???

Ansiedade!


Pois bem, Cecília e Pedro começaram a namorar, e se davam muito bem, a não ser pelos ciúmes da parte masculina da relação. Terminaram e voltaram exatamente duas mil, cento e cinqüenta três vezes, até que ele, resolveu abrir seus horizontes e diminuir a cobrança, forçada pelos ciúmes.

Resolveram se casar e há quem diga que na hora do pedido à família, ele tremia, engasgava e mexendo só a parte de cima da boca, como um coelho, sai a frase esperada:

“-Dona Maria, a senhora me concede a mão da sua filha em casamento?”.

Mas os dois eram doidos! Se casaram e foram morar em uma suíte em cima da casa da sogra de Pedro, mãe de Cecília, e ainda dividiam a cozinha que ficava na casa debaixo da suíte, com a sogra em questão e com a irmã recém casada, Eliza. Não obstante, seis meses depois eles engravidaram, e no final da gestação, nascia uma criança “doce, calma e tranqüila” chamada Juliana.

O tempo passa, o outro filho nasce, e a suíte fica apertada para os dois. Trocaram com a sogra: quem era de cima desceu, e quem era debaixo subiu.

Anos depois, a segunda mudança: o trabalho e a casa viravam a mesma coisa, e todos os quatro (mais a sogra), arrumaram a trouxa e foram lutar pela vida e pelo dia-a-dia em várias cidades no estado em que nasceram, e por fim, voltaram à casa do começo da história.

Nessas idas e vindas, muita coisa aconteceu: o dinheiro veio, o dinheiro foi, os filhos cresceram, a família também, institui-se a sexta feira como dia oficial do churrasco da família... Muitas crises, barras e pindaíbas, mas nunca, nunca no relacionamento dos dois.


Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Carla Lemos é licenciada em Educação Física pela UFRuralRJ, mestranda em Antropologia Social pela UFF, bailarina autoditada em danças populares e dança de salão. Também é cronista, mas só escreve em anos bissextos.

2 comentários:

Lara Cervasio disse...

Anos bissextos? Não entendi. :S

Por que? [Eita!]

Beijos

Carla disse...

Pois é.
Ele fez essa brincadeirinha com os anos bissexto, em referência à minha frequente escrita. Como eu quase nunca escrevo,os intervalos em que esses textos saem acabam sendo de quatro em quatro em anos.
Ou mais...

Obvious Lounge: Palavras, Películas e Cidades

Obvious Lounge: Palavras, Películas e Cidades
Agora também estamos no incrível espaço de cultura colaborativa que é a Obvious. Lá faremos nossas digressões sobre literatura, cinema e a vida nas cidades. Ficaram curiosos? É só clicar na imagem e vocês irão direto para lá!

(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC

(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC
Saiba como adquirir o mais novo livro de Vinícius Silva clicando nesta imagem

Palavras Sobre Qualquer Coisa - O livro!

Palavras Sobre Qualquer Coisa - O livro!
Para efetuar a compra do livro no site da Multifoco, é só clicar na imagem! Ou para comprar comigo, com uma linda dedicatória, é só me escrever um email, que está aqui no blog. Besos.

O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

O CULPADO OCUPANDO-SE DAS PALAVRAS

Contato

O email do blog: vinicius.fsilva@gmail.com

O PASSADO TAMBÉM MERECE SER (RE)LIDO

AMIGOS DO PSQC

As mais lidas!