(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC

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terça-feira, 26 de março de 2013

Carta aos alunos


A relação entre professores e alunos é um mistério desde os primórdios do tempo. Quase indecifrável entre os primeiros pés sujos de lama e cadeiras fixadas à terra, ideias peripatéticas e proposições estáticas, mestres e discípulos, púlpitos e anfiteatros, mão e palmatória, mente e coração.

O mistério que ronda este entrelace de pessoas quase sempre tão distantes e distintas, teve cunhado seu argumento na objetividade do conhecimento, de sua geração e transmissão, e há razão para isso. Mas com o passar do mesmo tempo percebeu-se que o saber não se resume somente ao que é aprendido materialmente ou intelectualmente. O conhecimento é mais, muito mais. A arte do ensinar é um caminho de muitos fluxos, onde se relaciona a vitalidade da juventude curiosa com os anos calejados de muitas leituras e algum aprendizado forçado pelas rugas da vida.

Engana-se quem acredita que nesta relação, o mestre, tutor, preceptor, ou simplesmente professor, possui importância maior. Não. Seu papel de condutor de questionamentos o leva por caminhos desconhecidos, onde no final de sua jornada perceberá que, e por fim, quem acabou por mais aprender foi ele, desde que aceita, humildemente, a função de mediador de angústias em estado de maturação. A juventude é um furacão de vida que passa por nós somente uma vez. Porém a função sagrada do professor, consagração neste momento por mim determinada, nos permite viver a juventude mais de uma vez, e mais, e mais, e mais... O mestre sempre poderá beber da ambrosia dos tempos novos, se estiver disposto a despertar sua alma a curiosos e indecisos ventos.

Porém nem todos os encontros entre discípulos e mestres, alunos e professores, são felizes ou amáveis. Neste contato sempre há de se considerar, mais uma vez, o tal do tempo, ou em uma de suas determinações mais específicas que chamamos: história. A questão é que as diferentes histórias coletivas e individuais podem estar vivendo momentos diferentes, onde as perguntas não se coadunam, os desejos são diversos, as intenções são opostas, a curiosidade é dispersa. Sim. Pode haver ódio e rancor nesta delicada sintonia. E mesmo assim, quando as arestas estão expostas, algo de bom pode ficar. Dizem que os mais odiados professores são, em sua maioria, os mais marcantes, e que as classes mais exaltadas são as que apresentam os reais desafios. Verdades e mentiras. Possibilidades e potências. Binômios. Ensinar e aprender são conceitos irmãos, e como tal, brigam, discordam, afastam-se... mas, como as relações familiares, se amam incondicionalmente e, em algum momento, aqui ou lá, voltarão às boas. Pelo menos é o que dizem alguns.

Mas após este prelúdio, ou prenúncio, venho revelar meu caso de amor com vocês, meus alunos.

Por que amo vocês? Não há racionalidade acadêmica que possa explicar esse sentimento. Então o que sobra são as imprecisas palavras de um poeta que tem a pretensão de ensinar e que pôde respirar, novamente, ares desbravadores.

Amo porque são belos. Amo porque possuem espinhas na cara. Amo porque carregam o bom humor juvenil. Amo porque se enxergam como uma turma, apesar de todas as diferenças. Amo porque são preguiçosos. Amo porque gostam de festas. Amo porque fazem perguntas ingênuas, e essas são sempre as melhores. Amo porque estudam em casa. Amo porque sofrem ao estudar em casa. Amo porque sofrem e choram ao fazer provas. Amo porque chegam à aula com a cara amassada e com sono após uma noite mal dormida por uma balada qualquer. Amo porque, mesmo assim, lêem os textos e se preocupam com as notas. Amo porque faltam às aulas, e no fim se preocupam com o que o professor vai pensar sobre cada um de vocês. Amo porque os invejo, porque os vejo em mim, em um passado que não voltará, a um momento que não poderei viver mais, não mais. Amo porque são o espelho para que, às vezes, eu possa me revisitar e me reviver. Amo simplesmente porque são os meus alunos.

E diante desta breve experiência de vida que já carrego, o que posso deixar? Que pequenas lições poderia dizer, sem o peso das regras exatas e dos ensinamentos cheios de verdade. Deixarei, portanto, um pouco do que vi e vejo, nos dias e noites em que procuro ser uma melhor pessoa e viver em um melhor lugar, em um melhor país.  

Digo. Amem-se como colegas, amigos, companheiros. Nunca viverão novamente o que estão vivendo agora. O desafio do conhecimento só se torna uma aventura feliz quando se é vivida coletivamente, com amigos queridos. Curtam as festas, as danças, as músicas, os encontros, os romances, as separações, as brigas.

Não se esqueçam que nem todos os que convivem com vocês serão realmente seus amigos, mas guardem um espaço na memória e em seus corações para eles. Lembrem-se, vocês irão brigar! Deixarão de falar uns com os outros e talvez nunca mais refaçam as pazes, mas não se esqueçam de jogar fora todas as mágoas, elas ocupam um lugar precioso. Não esqueçam seus pais, seus familiares, seus amigos de infância, amigos da rua... Se hoje estão na casa do saber, lembrem-se que aqui estão porque outras pessoas os conduziram.

Não se esqueçam da sala de aula, de suas cores, luzes e cheiros. Não se esqueçam dos ônibus lotados. Não se esqueçam das moças que limpam o prédio e os banheiros. Não se esqueçam do dinheiro minguado para o almoço e as fotocópias. Não se esqueçam dos funcionários da secretaria, eles podem ser muito importantes para vocês. Não se esqueçam do professor chato. Não se esqueçam do texto impenetrável. Não se esqueçam da greve. Da falha. Da falta. Das provas. Das broncas. Dos afagos. Das piadas. Das risadas. Dos abraços. Dos beijos. Do bocejo. Do gracejo. Não se esqueçam!

Não, não se esqueçam de... mim.

Obrigado por tudo.




Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Viagem (In)esperada

Há duas formas de viajar.

A primeira é aquela que nos pega de surpresa, que nos faz soluçar de susto, pavor ou alegria intensa. Para essa temos poucos recursos emocionais. Arrumamos as malas rapidamente, não escolhemos as roupas que mais gostamos ou separamos o que mais nos fará falta. Vamos. Simplesmente. Podemos carregar lágrimas e sorrisos de supetão. Vamos ao desconhecido, porque toda viagem é ir e não saber como voltar. Porque nunca permanecemos iguais quando voltamos, se voltamos...

Outra maneira é a viagem antecipada, marcada pelo tempo previsto e revisto. Nesta acabamos por nos preparar. Mas será? Será que nos preparamos? Será que nos despedimos de todos que devemos? Falamos “eu te amo” todas as vezes necessárias, todas as vezes? Colocamos as indumentárias mais importantes, os sentimentos mais bonitos? Jogamos fora as mágoas, as raivas, os ressentimentos, as brigas e decepções? Rememoramos as lembranças belas, as gargalhadas extravasadas, os sorrisos molhados de lágrimas? Quase toda viagem esperada é carregada de certezas e um destino final. Mas existem alguns desses caminhos que são carregados de incertezas e mistérios. Como saber? Não sabemos. Nunca. Talvez não devamos saber. Para certos percursos só temos a certeza que são jornadas eternas, ternas, internas. Às vezes dolorosas, mas sempre com lições sobre humildade, amor e perdão.

Não há mapas para tais viagens. Não há cartografia disponível para certos lugares. Então temos que nos conformar com o que acreditamos, ou no que simplesmente tentamos acreditar. Porém a fé na alegria da pessoa que chegará em sua derradeira jornada, traz a esperança em continuar de pé em riste, e olhar, e chorar, e amar, e dizer: “Sim. Estarei pronto para quando minha viagem chegar, esperada ou inesperada, estarei pronto para novamente caminhar”.

Boas viagens a todos nós.


Para Dona Fátima.



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Obvious Lounge: Palavras, Películas e Cidades

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Agora também estamos no incrível espaço de cultura colaborativa que é a Obvious. Lá faremos nossas digressões sobre literatura, cinema e a vida nas cidades. Ficaram curiosos? É só clicar na imagem e vocês irão direto para lá!

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Palavras Sobre Qualquer Coisa - O livro!

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

O CULPADO OCUPANDO-SE DAS PALAVRAS

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O email do blog: vinicius.fsilva@gmail.com

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