(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC

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segunda-feira, 7 de abril de 2008


"O Prisioneiro" - Érico Veríssimo
Editora Globo - 1967


Atualmente Érico Veríssimo é mais conhecido como o pai do escritor, cronista e músico Luis Fernando Veríssimo. Porém Érico foi um importante escritor brasileiro do século XX, criando obras de relevância na literatura nacional, como "Incidente em Antares" e a trilogia "O Tempo e o Vento".

Este livro que iremos resenhar é o penúltimo romance de sua vida, anterior a "Incidente em Antares". Érico residiu muitos anos nos Estados Unidos e vivenciou as consequências da Guerra do Vietnã, tanto para a vida social e política daquele país, quanto para o mundo político naquele momento histórico.

"O Prisioneiro" nasceu de seu espanto pelas atrocidades da guerra. O livro foi lançado em 1967 e reflete os acontecimentos tão marcantes à época. Nos comentários iniciais menciona a dor que o fez escrevê-lo e admite que o romance seria sua contribuição, como arte, para seus filhos, netos e talvez para o mundo. Também afirma que seu grito em forma de ficção não teria a capacidade de mudar os rumos da guerra, mas seria a melhor forma para contribuir para o seu fim, e ele tinha razão, falar sobre o sofrimento nos faz refletir sobre ele.

O livro tem um estilo literário formal, talvez reflexo da postura profissional e da seriedade do autor, talvez pela severidade com o qual o tema foi abordado. É narrado em terceira pessoa e relata a vida de 3 soldados americanos em solo vietnamita. Interessante notar que em nenhum momento o autor refere-se ou nomeia países, capitais, bandeiras, mas sua descrição é tão precisa e seu debate é tão conhecido que não seria necessário nomes para saber se localizar na história.

As histórias desses 3 combatentes se entrelaçam mostrando os horrores da guerra, a geografia inóspida para os "salvadores" da liberdade, a teocracia democrática norte-americana, a resistência cruel e selvagem dos vietcongues. Porém não há tomada de posição do narrador, não há bandeira a ser defendida ou ideologia a ser ressaltada. O romance relata que na guerra todas as questões políticas quase sempre desaparecem, são minimizadas, diminuidas, tornadas superficiais, e que os homens se igualam, se tornam parecidos, mas não em suas virtudes, o que ocorre é a semelhança pelo terror, pela barbárie. Os humanos são mais humanos enquanto praticam atos desumanos, animalescos, a diferença cultural e política torna-se pretexto para que voltemos às nossas origens mais canhestras.

Não há superficialidade no romance, os debates e discussões ideológicas estão lá, convivendo com as personagens, vindo à tona e fazendo que o embate entre política e sobrevivência torne a guerra muito mais sofrida. O imperialismo, o colonialismo, a miséria, a dependência econômica, a subserviência política, as lutas de autoriade, todas essas representações e materialidades estão misturadas e localizadas, representando o âmago da guerra, sua causa e efeito. O mais interessante é que o autor esmiuça o sofrimento íntimo e revela na descrição das estruturas psicológicas das personagens, a teia social e cultural que aquela miscelânea de povos está embebida. O preconceito racial americano misturado com o orgulho e a honra à pátria, a intolerância religiosa de ambos os lados, as muitas "luxúrias", representadas pela exploração sexual. A corrupção, o medo, a morte, a tortura, e todos esses sentimentos e ações como escudos e armas na batalha pela... liberdade.

Érico aponta essa contradição e demonstra que não há modelo político ou governo que possa justificar a guerra. Diz que nesses combates todos perdem e que todos os homens se tornam menos humanos nesse laboratório de maldades. Esta obra foi escrita com o sentimento e sofrimento decorrentes de um desencanto com os humanos e com as instituições que os representam. Porém ninguém escreveria este romance sem um mínimo de esperança, sem a fé de que seus netos viveriam em um mundo melhor, e apesar de todo terror narrado, essa esperança resiste e persiste, depositada nas palavras da personagem de uma sofrida professora. Talvez essas palavras fossem a demonstração de que somente uma educação ética poderia transformar o mundo das guerras.

Érico Veríssimo morreu de infarto em 1975. Viveu o suficiente para morrer com a última grande guerra que presenciou.
Nós?
Nós ainda temos muitas para tentar evitar.


Bons livros.


Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Diálogos I

- Mamãe! Como foi sua infância?

- Foi boa, filha. Simples, mas boa. Brincava jogos simples pelas calçadas e ruas, com os moleques descalços e pés sujos de lama, moleques tão simples e tão moleques como eu.

- E meus avós?

- Seus avós também eram pessoas simples, mas de bom coração. Lembro de sua vó cozinhando o prato preferido de seu avô e de vez em quando ela gritava: “Menina sai da rua!”.

- E meu vô?

- Seu vô era pessoa séria, de poucas palavras e muitos olhares. Carinhoso e sisudo. Nenhum dos dois tiveram muitos estudos, mas sempre me perguntavam: “Já fez o dever de casa?”, “Deixa eu ver as notas do bimestre”.

- Eles eram severos?

- Não muito. Acho que consegui o que eles queriam. Consegui ter mais estudos do que eles. Me formei, depois me formei de novo e depois mais uma vez. Acho que consegui o que eles sempre esperaram de mim.

- Mamãe, o que você espera de mim?

- Espero que você seja uma boa pessoa, minha filha, uma pessoa de bem, que leia bons livros, que seja integra, carinhosa, boa filha para se tornar uma boa mãe, e que principalmente estude, estude e estude mais ainda, para que possa ser alguém na vida.

- Então você quer que eu faça tudo o que vovó queria que você fizesse?

- Não! Não é isso... não...

- Por quê?

- Quero que você siga seu próprio caminho!

- Hum. Tá bom.

- ... não sei. Só sei que sinto muito a falta deles. E todas as noites ainda lembro da minha infância, da cidade onde nasci e morei, que por sinal é bem longe daqui. Toda vez que lembro da rua, de casa, de papai e mamãe, lá no meu quarto, com seu pai ao meu lado, toda vez que lembro... [acabo chorando].

- Mamãe porque a gente ainda está andando de ônibus?

- Porque a vida não é tão fácil assim, por mais que tentemos fazer as coisas certas, filhota, sempre acabamos errando pelo caminho, deixando de fazer certas coisas, tomando outros rumos. Mas, hoje, você vive em melhores condições do que eu vivi! Posso te dar coisas que não tive.[Engraçado, mamãe também me dizia isso].

- Então acho que é isso mesmo que eu quero, mãe, quero estudar, ser uma webdesigner e publicitária, fazer um MBA na Fundação Getúlio Vargas, depois fazer meu mestrado e tentar um doutorado sanduwich em Londres com uma bolsa da CAPES ou do CNPq...

- É isso mesmo minha filha, este é o seu caminho, siga-o, faça-o.

- Mãe, será que eu serei uma pessoa feliz?

- Lógico minha filha, lógico...

-Você é feliz?

- Sim, sou sim. E sou feliz só porque tenho você. Mas porque também você tem um pai que te ama. Porque posso lembrar de minha infância, de meus amigos, de seus avós, e depois... [chorar]... e depois...sorrir!

- Mamãe. Eu te amo!

- Eu também te amo, minha menina.

- Mãe, a gente tem que puxar a “campanhia”, já é o nosso ponto.



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Obvious Lounge: Palavras, Películas e Cidades

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Agora também estamos no incrível espaço de cultura colaborativa que é a Obvious. Lá faremos nossas digressões sobre literatura, cinema e a vida nas cidades. Ficaram curiosos? É só clicar na imagem e vocês irão direto para lá!

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Palavras Sobre Qualquer Coisa - O livro!

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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O email do blog: vinicius.fsilva@gmail.com

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