(in)contidos - O novo livro de Vinícius Fernandes da Silva do PSQC

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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Bones

As ondas dos cabelos se confundiam com as do mar, pois este batia braviamente contra a proa. O barqueiro carregava o leme em mãos de aço, enquanto o passageiro, náufrago de sentidos, viajava incólume à tempestade. O destino desconhecido, o caminho tortuoso, a partida esquecida. O que lhe ocorria era só aquela lembrança nebulosa de sentimentos, de névoa em pessoas. Rostos, peles, cheiros, aromas, gostos. Mas nada claro, tudo turvo, sem sentido. A única percepção é de que as lembranças eram boas, uma sensação feliz de algo bem feito, terminado. As ondas batiam ardidamente às suas costas e o torpor não o fazia perceber nada. Tinha somente a certeza de não saber onde iria chegar. O condutor continuava em seu leme imbatível e o passageiro o ignorava, como todos os que carregam duas moedas sobre os olhos. O barqueiro sorria o sorriso invisível de mais um serviço bem feito, entre o ir e o vir. Pois o que nos traz,
também é o que nos leva.



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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Yellow Sky

O mais difícil é fazer com que, além das de nossas mães,
lágrimas rolem sobre nossas lápides.

Quero que de frente à minha tábua final, além de estar inscritos meu nome e minha pequena duração, se ponha ao seu pé, um cálice de lágrimas. Para poder conter e contar minha vida às rosas amarelas que irão me guardar.


(para Lilia)



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ENCARNADO

No momento em que foste embora vi e vivi o quanto rubro minha vida ficaria, e vermelho de retidão encarnei a vergonha do perdão e quase disse – volta – mas não disse. Não sei qual cor terás a vergonha, ou a raiva, porque passo a achar que ambas têm a mesma cor, pois doem como entranha em pus, como víscera em dor.

No momento em que não olhastes para trás minha vida ficou púrpura e como cinzas minha alma apagou, passei a ver com exatidão e quase disse – olha – mas não disse. Não sei qual cor terás o arrependimento, ou o mal-dizer, porque passo a achar que ambos têm a mesma cor, pois doem como pedra a tilintar em meu crânio com ardor.

No momento em que não mais te vir minha vida ficará branca e límpida, minha existência ficará tranqüila, não haverá nada, e quase direi – morra – mas não direi. Não sei qual a cor terás a tranqüilidade, ou o esquecimento, porque passo a achar que ambos têm a mesma cor, pois reluzem a luz do sol em meus olhos com torpor.

No momento em que... Volta! Te suplico! Te chamo! Volta meu amor! Minha vida e luz! Volta e olha para trás! Volta e não vá mais! Volta minha flor! Não, não, não, não, sinto muito, mas não tenho mais nenhuma... cor.



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terça-feira, 17 de junho de 2008

Tá na hora de voltarmos à poesia...

O desencantamento de um jovem brasileiro

Após as discussões iniciadas sobre a validade biológica, jurídica, ética e política das cotas raciais e a percepção (pelo menos a do PSQC) de que nossas principais mazelas estão concentradas na ineficiência de nossa educação básica (para todos os tons de pele), apresento aos senhores um documento redigido por mim acerca de nosso ensino público, e se o mesmo não trata da questão da educação dos primeiros segmentos, pode revelar de uma maneira bastante exemplar os problemas enfrentados (ou questões a serem repensadas) por quem estuda no "topo" do ensino público no país: a pós-graduação.

Este documento, com seu relato baseado em uma situação estritamente pessoal, pode esclarecer que certas problemáticas independem da cor da pele, e que os desafios não se restringem ao ensino básico, mas se estendem a todas as instâncias da educação no Brasil. Tentei ser professor de sociologia no ensino médio público pelo estado do Rio de Janeiro, porém não consegui ficar por muito tempo, portanto, meus apontamentos ficam restritos ao "Oásis Acadêmico" nacional, nossas maravilhosas e democráticas "pós-graduações".



O DESENCANTAMENTO DE UM JOVEM BRASILEIRO


Gostaria realmente saber quando este país que habito e da qual possuo a mesma nacionalidade, este país chamado Brasil, será realmente um país formador de verdadeiros cidadãos e se preocupará com a formação de seus professores e a educação de seus jovens.


Minha situação vivida é límpida para demonstrar as discrepâncias e curiosidades deste país sui generis.

Tenho 26 anos, sou nascido, criado e morador da cidade de Mesquita (o mais novo município do estado do Rio de Janeiro) na Baixada Fluminense. Venho de uma família considerada como antiga classe média baixa e desde o início da década de 90, até os dias de hoje, caracterizada como... pobre. Obviamente que os destinos dos jovens que nasceram e viveram no mesmo local que eu, e sob as mesmas circunstâncias, se desenvolveram em trajetórias de vida bem diferentes da minha, trajetória esta que irei contar agora.

Após meus pais terem conseguido pagar o meu ensino fundamental em medianas escolas particulares, consegui passar e concluir o antigo segundo grau técnico no Centro Federal de Ensino Tecnológico (CEFET/RJ). Ao final do ano de 1998 formei-me Técnico em Estradas pelo mesmo CEFET/RJ. Algumas muitas greves passei nesta instituição, greves estas que se repetiriam até os dias de hoje, pois continuei meus estudos em instituições federais de ensino.


No segundo semestre do ano 2000 adentrei ao curso de Ciências Sociais na UFRJ, tornando-me bacharel e licenciado ao final do ano de 2004, ano este em que também consegui adentrar ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da mesma UFRJ. Lembrando que durante todo meu curso de graduação eu trabalhava concomitantemente em uma firma prestadora de serviços da Polícia Federal, trabalho este que foi minha fonte de sustento até o final de 2004. Neste mesmo final de ano prestei e passei no concurso para o magistério em sociologia na rede estadual de educação do Rio de Janeiro.


Devido à minha colocação no processo de admissão no PPGSA, fui contemplado com uma bolsa do CNPq, bolsa esta no valor R$ 855,00 reais. A previsão de pagamento desta bolsa era para Março de 2005, porém a mesma só foi liberada em Junho do mesmo ano. Obviamente que eu teria que comer, transportar-me, vestir-me, enfim, sobreviver desde o começo do ano, já que não tinha nenhuma outra fonte de renda.


Comecei portanto minhas atividades como professor de sociologia da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, atividade esta que me transborda (transbordava) de orgulho e que me proporcionou a oportunidade de lecionar na mesma escola, em Mesquita, onde meu pai estudou em sua infância. Eu era professor da escola onde o homem que me fez surgir ao mundo se formou. Um belo ciclo se fechava. Possuía somente uma matrícula e minha renda pelo Estado não ultrapassava R$ 500,00 reais.


A partir de Junho, quando comecei a receber minha merecida (acredito eu) bolsa, passei a somar o valor de R$ 1.355,00 reais mensais para a minha sobrevivência. Porém sabia de uma regra do CNPq que impedia a concomitância entre a bolsa e uma outra fonte de renda. Ao final do mês de Agosto fui informado que tinha sido devidamente “denunciado” sobre as minhas atividades “ilegais” e que a qualquer momento poderia perder minha bolsa, ser processado e ter que devolver todo o absurdo montante que já tinha obtido “ilegalmente”.


Após todo um processo de angústias e reflexões cheguei a algumas conclusões que não sei, realmente, se são ou serão pertinentes:

· Todo o ensino superior no Brasil está destinado e é pensado como um grande diferenciador e proporcionador de “nobreza”. Uma titulação que separa a elite e o resto do país, apesar do avanço das instituições particulares de ensino superior nos últimos anos;


·
Cada vez mais os cursos de pós-graduação das instituições públicas tornam-se locais de bajulação e favorecimento, visando o “puxa-saquismo” para o pagamento de bolsas e verbas públicas ao “incentivo” à pesquisa. [Não negando que o desenvolvimento científico e tecnológico é fundamental para o crescimento de qualquer país, porém com investimento maciço, programado e planejado, principalmente];


·
O total descolamento e a separação proposital entre o teor do ensino tecnológico e humano de “alta” capacitação (pós-graduação) e o ensino ministrado nos níveis médios e fundamentais em todo o país. Lembrando que este ensino é fornecido, em ambos os casos, com dinheiro e verbas públicas;


· A visão de que um futuro professor universitário não deve ficar perdendo seu tempo, esforço e dinheiro tentando ser um professor do ensino médio público no Brasil.


Enfim podemos ver que um jovem, como eu, sociólogo, mestrando, está impedido de poder ser um professor do ensino médio público por não poder acumular ao final do mês R$ 1.300,00 reais para se manter dignamente. E que ser professor do ensino médio público é considerado um demérito se comparado às grandes cátedras que ainda parecem persistir no Brasil.

Eu digo que não. Não acredito nisso e não irei acreditar. Acredito que me tornaria um professor universitário muito melhor se pudesse dar prosseguimento ao meu contato com os jovens da Baixada Fluminense, com os jovens que efetivamente necessitam da ação do Estado e principalmente da educação, educação esta que só poderá ser proporcionada por material humano competente, bem-formado e disposto a encarar os muitos desafios que temos nas escolas brasileiras.

Para concluir minha quase odisséia venho dizer que fui “saído” da minha função de professor do estado, pois se não o fizesse poderia perder minha bolsa e não poderia sobreviver com R$ 500,00 reais, mesmo sabendo que milhões de brasileiros conseguem fazê-lo e entendendo que isto não pode ser considerado orgulho e, sim, como única forma de sobrevivência de nosso sofrido e trabalhador povo. Tornei-me novamente e somente um mestrando, um nobre com sua magnífica bolsa e que se tornará um belo pesquisador, um excelente professor universitário e que daqui a alguns anos irá dizer que ainda está estudando e que descobrirá as mazelas educacionais de nosso país.

Ah! Já me esquecia... uma bolsa de doutorado no Brasil está por volta de R$ 1.300,00 reais, com as mesmas condições que a bolsa de mestrado.

Será que ainda preciso disso?

Despeço-me.


Carta escrita em 2005, durante minha tentativa de ter a bolsa de mestrado e de ser professor do estado do Rio de Janeiro. Enviei esta carta para o Senador Cristovam Buarque, e a mesma foi respondida com prontidão pelo referido Senador. Exponho a carta e deixo seu conteúdo à disposição de vocês, leitores do PSQC, e que os comentário se encarreguem de mostrar quais as impressões e opiniões sobre o teor da carta.

Besos.


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domingo, 1 de junho de 2008

Panorama dos SEM

Como prometido, mostro a vocês o texto que escrevi há aproximadamente 10 anos e que indica um pouco sobre o caminho intelectual que percorri. As palavras abaixo demonstram que minha opinião acerca das cotas raciais não mudou, e isso não é uma prova de orgulho, pois muitas outras opiniões minhas se transformaram através do tempo. Tinha 20 anos e ainda fazia pré-vestibular quando escrevi no papel virtual algumas idéias. Ler esse texto talvez revele algumas evoluções argumentativas ou de conteúdo promovidos por uma formação acadêmica interessante (é só comparar esse texto com o do post anterior), mas também demonstra uma essência intelectual que permaneceu, além de algo mais. O "algo mais" que permaneceu foi o desejo de mostrar às pessoas um pouco sobre o que não sei, e sobre o que procuro, com a ajuda do olhar de todos, aprender um tantinho mais.

Ah... disse no post anterior que tinha sabido sobre o PVNC por um cartaz, bom, vocês lerão agora que não foi muito bem assim...

Vamos às palavras:

PANORAMA DOS SEM
(Saúde, Educação, Moradia)


Ontem eu estava lendo um jornal, não lembro muito bem (Ah!!, era o ALTERNATIVO, jornal sobre cultura da Baixada), e deparei-me com a seguinte manchete: PRÉ-VESTIBULAR PARA NEGROS E CARENTES. Juro que no momento tomei um susto e por um minuto fiz “n” questões. Irei enumerá-las:


1. Seria o pré-vestibular proibido para brancos carentes;

2. Seria o dito cujo proibido para negros ricos ou só ricos;

3. Seria o famigerado curso proibido para mulatos e pobres;

4. Seria que na porta do curso teria uma plaquinha escrita:

"-Só entre se você for negro e carente, se você não satisfaz estas exigências nem entre”.


Sinto que, ao ler aquela manchete, estas questões muito imperativas foram se formando na minha pequena e ignorante cabeça.

Estava estudando em um curso pré-vestibular de Nova Iguaçu, quando li esta manchete e notei que outros alunos também a leram, tendo assim começado uma discussão sobre o assunto. Entre vários debates chegamos à conclusão de que o texto era PRECONCEITUOSO E SEGREGRACIONISTA, pois, de acordo com esse mesmo texto e com a conjunção aditiva empregada (-e), somente os negros e carentes poderiam fazer parte do curso

Porém um amigo não satisfeito continuou a discussão e soltou a seguinte frase, que irei reproduzir fielmente nos trechos a seguir.

AMIGO: - Pô !Se você leu dessa forma, o racista e preconceituoso é você!

EU: - Eeeeuuuuuuuu??????

AMIGO: - Sim. Porque somente lendo a história do curso você poderá discutir porque o nome dele é este, o.k.?

EU: - O.k., então eu irei ler.

Li então na quarta página do jornal a matéria que falava sobre o tal curso. E descobri que o curso teve início na Bahia e que foi criado por movimentos negros em áreas carentes que, em sua maioria, eram habitadas por pessoas negras e carentes. O seu nome original é PVNC (Pré-Vestibulares para Negros e Carentes) e com o passar do tempo este curso foi se espalhando por todo o país e até em áreas conhecidas por nós, moradores da região (como: Posse, Cabuçu, Rancho Novo, Edson Passos, etc.).

Tirei assim minhas conclusões, quer dizer minhas dúvidas, e as colocarei para vocês leitores.

Será que, ao tomar dimensões que abrangem muito mais áreas do que as de sua origem e com a entrada de vários segmentos sociais, o curso não deveria ter sensibilidade e mudar o seu nome ou então enviar para os meios de comunicação manchetes como: PRÉ-VESTIBULAR PARA CARENTES. Ou será que um negro carente é diferente de um branco carente? Para mim, todos são carentes e esse é o grande problema.

Ou será que o que estou tentando dizer é uma grande besteira e nós que tivemos esse tipo de interpretação é que somos os verdadeiros preconceituosos?

Não sei.

Jovens, povo da Baixada, sociedade, Brasil, por favor, me respondam.

Obs.: Vinícius Silva é um branco azedo e sem graça que adoraria pegar um solzinho e ficar negão (sem preconceito, é claro!).

Besos.


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Obvious Lounge: Palavras, Películas e Cidades

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Agora também estamos no incrível espaço de cultura colaborativa que é a Obvious. Lá faremos nossas digressões sobre literatura, cinema e a vida nas cidades. Ficaram curiosos? É só clicar na imagem e vocês irão direto para lá!

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Palavras Sobre Qualquer Coisa - O livro!

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

O CULPADO OCUPANDO-SE DAS PALAVRAS

Contato

O email do blog: vinicius.fsilva@gmail.com

O PASSADO TAMBÉM MERECE SER (RE)LIDO

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