Faz muito tempo que não escrevo neste blog. Um pouco mais de 1 ano. Não é a primeira vez. Pelos idos de 2011 eu também dei uma sumida e depois... voltei. Há explicação? Não sei. Gosto do que diz Ferreira Gullar* **, quando menciona que a poesia só pode nascer do "espanto" do/a poeta. E muitas vezes a vida necessita simplesmente ser vivida, como repositório de novos "espantos". A vida urge, porque a poesia existe nela desde sempre, como palavra ou às vezes somente como oxigênio.
Mas isto não explica tudo. Continuei fazendo poesia, anarquicamente, como sempre, mas continuei. Este blog, este espaço virtual completa 10 anos neste ano de 2017. 10 anos! Muito, né? Ele nasce em um momento que o próprio boom e relevância dos blogs já havia meio que... passado, mas para mim o tempo sempre durou mais, mesmo. Não importa! O criei, alimentei e hoje ele já é uma criança de 10 anos. Porém outras plataformas também foram surgindo e assumindo um papel central na difusão e divulgação de textos e escritores. Portanto o Palavras Sobre Qualquer Coisa tem uma fan page no Facebook (clique no link) e é reproduzido também em meu Instagram pessoal (@viniciuspsqc) e os últimos poemas têm sido postados diretamente por lá. Sem ter que passarem pelo blog. Mas por alguma razão, em um ano de tantas mudanças pessoais, tive o desejo de vir aqui e publicar novamente. Talvez para me despedir ao final do ano.
Não sei se esse blog foi efetivamente lido ou acompanhado por alguém. Se ele tem alguma importância para alguém além de mim (com a exceção que devo fazer obrigatoriamente a Lara Cervasio, fã número 1 do blog). Só sei que ele é importante pra mim, e enquanto for, aqui estarei.
* Da última vez que escrevi no blog, Ferreira Gullar ainda respirava. Sua partida me entristeceu.
** Ferreira Gullar é um poeta importante na minha formação. Porém não consigo separar pessoas e suas respectivas obras. O rancor, a pequenez, o golpismo e o ódio de Gullar anos antes de sua partida, também me entristeceu.
Sempre iniciei novas fases poéticas com SECÇÕES. Então para não perder a tradição, esta nova leva de textos farão parte de... DORES CURTAS. E sim, temos um novo poema e finalmente irei ao que interessa.
SECÇÃO DORES CURTAS
rubi
há uma solidão fundamental que
se perdeu nos emaranhados do
tecido tramado de um coração
finalmente entregue
há uma solidão fundamental que
esvoaçou em afetos e beijos
em eu te amos desferidos
em olhares de açúcar
mascavo
há também uma alma que saiu da jaula
e voou
e voou
e amou
refugou o medo
mergulhou no abismo
e ao fundo
havia o rio que ela sempre
esperou encontrar
esta alma
um dia
desgarrou-se de seu hospedeiro
em terras do oriente e se deitou
nos braços de uma mulher
e assim viveu esquecida
por tempos adormecida
em torrões de calmaria
de maré bonita
e clara
e brisa quente
cheiros
azuis
laranjas
um dia
a solidão fundamental esquecida de si mesma
ficou confusa
enlouqueceu
gritou
chorou
se fodeu
fodeu
então
um dia
alma e solidão procuraram seu velho corpo
em ruas confusas
de areia vermelha
e sangue
e febre
e gozo
e gozo
e raiva
raiva
enfim solidão e alma se
reencontraram em matéria
viram o corpo ferido
apodrecido
sujo
imundo
e gritaram
viva
vivam
deram-se as mãos
os três
corpo
alma
solidão
há uma solidão fundamental que
clama morada
sibila os sinos
aponta pra fé
e liga os motores
há uma solidão fundamental que
aprendeu a dizer
sim
e que
agora
ensina a dizer
não
há uma solidão fundamental
há um homem fundamental
e ele está de volta
rubi
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Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. É professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poemas: (in)contidos. Trouxe, junto com Marcelle Decothé, a Anistia Internacional para a Baixada Fluminense. Atualmente coordena o Clube do Livro Baixada Fluminense. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Defensor e crítico deste território. |
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