"Zen e a arte da manutenção de motocicletas" - Robert M. Pirsig
Paz e Terra Ficção - 1991
Entre muitos livros que me interessaram e os poucos que não dei bola (e que por fim dei de presente a um amigo), estava este do título acima. Lembro que por muito pouco não foi para o grupo dos "dados", porém o estranhamento por seu título e por sua capa, pelo menos essa edição brasileira de capa (existem outras), me fez ficar com ele. Ficou guardado em minha minibiblioteca por algum tempo, junto com todos os outros que de vez em quando eu passava o olho com a idéia de desbravar e com a respectiva falta de coragem para fazê-lo.
O nome esquisito e o trabalho de arte com temática anos 70 me assustavam. Alguns anos atrás comecei a lê-lo, porém não consegui terminá-lo, não passei do comecinho... (isso acontece). Ainda não estava preparado.
Então a pouquíssimo tempo decidi enfrentar a fera. Foi a melhor coisa que fiz. O "Zen..." é considerado um clássico contemporâneo dos anos 1980 e realmente foi um enorme prazer poder desfrutá-lo.
A história se passa entre 4 pessoas que atravessam os Estados Unidos no sentido Leste/Oeste, provavelmente entre o final dos anos 1960 e os anos 1970, em duas motocicletas. Dois desse quarteto formam um casal, marido e mulher, com a outra dupla formada por pai e filho. A história é narrada em 1a. pessoa pelo pai do adolescente, que é amigo de velha data do casal companheiro de viagem. A princípio parece ser mais uma história de descobertas e acertos de contas entre pai e filho durante uma longa viagem, onde os dois aprendem e reconhecem seus erros e suas virtudes. Tudo isso impregnado de uma detalhada descrição da diversificada geografia de terras norte-americanas. Parece ser isso... e é.
E somente este tema poderia fazer desse romance um bom livro (assim como temos bons filmes com esta mesma temática), porém "Zen..." vai além, muito além. Com o decorrer da narrativa vemos que esse pai possui questões que superam seus problemas de relacionamento com o filho, ou as preocupações geradas por uma viagem longa, difícil e cansativa.
O protagonista está em busca de algo perdido, um elo que pode ser decisivo para entender todos os seus problemas e dúvidas, do passado e no presente. E é a partir dessa busca que a narrativa de uma simples história de uma inesquecível viagem passa a dividir espaço com uma busca misteriosa, pessoal, intuitiva e solitária. E é nesta divisão entre viagem, lugares, pessoas, cidades, sentimentos, presente e passado que o romance vai se encorpoando e mostrando o que veio realmente dizer.
"Zen..." é um romance bem escrito e além disso trata de questões interessantíssimas sem ser didático. O autor toma partido, dividindo premissas e apontando caminhos. Estamos falando de epistemologia da ciência (as razões fundamentais para que a disciplina ciência seja "científica" ou não), de conhecimento acadêmico e de filosofia, filosofia antiga e contemporânea.
Não! Não corram! É exatamente isso que vocês leram: FILOSOFIA. Não uma filosofia boboca, que sub-julga quem a lê, que faz do leitor mais ignorante para se mostrar mais inteligente. Estou falando de filosofia de questões cotidianas e aferíveis no dia-a-dia. E essa é a grande virtude deste romance. Desmitifica a mãe da ciência moderna, a filosofia, e a trata como uma companheira, como uma amiga, como uma opositora, como uma aliada, como algo que deve ser refletido todos os dias, e não visto como um "conhecimento inalcançável de acadêmicos em suas salas congeladas de arcaísmos".
"Zen..." deve ser lido sem medo, com gosto, deve ser enfrentado e depois das primeiras palavras... degustado.
Bons livros!
2 comentários:
Finalmente acessei o seu blog. Gostei muito! Achei muito fofa a história da gatinha negra, sinceramente não me lembro de um fato assim tão marcante na minha infância. E o zen qq hora kero encarar essa fdera tb. Estou compondo minha resenha te mandarei por e-mail e refazê-la até que eu possa acertar, quero muito dominar essa arte. Palavra falada é mais meu forte do que palavra escrita eu busco o equilíbrio e ampliar mais canais para que possa me expressar, me comunicar.Bjus e abços! Td ótimo!Alessandra Felicio.
Que bom que você gostou! Espero que volte sempre. Quanto à resenha fique tranquila, não é uma questão de dominar, é de sentir. Faça e quando terminar de ler, reflita: "É gostei, ficou boa".
Viu, é só isso. Simples, rs.
Besos.
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