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segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Carta a Dilma Rousseff



























À Excelentíssima Senhora Presidenta da República Federativa do Brasil Dilma Rousseff, 

Venho através desta carta, um tanto quanto íntima de um cidadão a seu representante máximo em uma república presidencialista, revelar meus sentimentos e expectativas neste novo ciclo que se inicia. Primeiramente venho parabeniza-la pela difícil vitória e que lhe garantiu a reeleição. Por seguinte irei relatar algumas considerações deste humilde brasileiro que lhe escreve.

A partir deste segundo parágrafo pedirei desculpas, mas passarei tratá-la somente como Presidenta Dilma. Espero que não se zangue. Revelarei neste momento uma inconfidência. Votei na senhora neste segundo turno, mesmo tendo dito publicamente e anteriormente que votaria nulo. Sei que poderão me cobrar por tal atitude, mas achei melhor seguir minha consciência e meus instintos. No primeiro turno meu voto foi na candidata Luciana Genro. Na verdade meus votos nos primeiros turnos desde as eleições de 2006 não são mais em candidatos do PT, mas nos segundos turnos sim. Talvez reflexo da deflagração do mensalão à época.

Presidenta Dilma, votei na senhora neste segundo turno por motivos bem diferentes pela qual votei, torci e elegi Lula na eleição de 2002. No pleito em que Lula se tornou o primeiro presidente de origem efetivamente humilde deste país, a esperança havia vencido o medo. Infelizmente, mais de 10 anos depois, votei na senhora e em seu partido porque... o medo superou a esperança. Obviamente que este medo estava diretamente ligado ao projeto de país do outro candidato e partido. Projeto pautado em replicações de agruras já vividas por longos 8 anos e que não gostaria de ver repetidas em minha vida e na vida de todos os brasileiros. Acredito não ser necessário descrevê-las neste momento.

Mas e a esperança?

Falarei, agora, de desesperança. Minha desesperança teve início quando passei a perceber que, para a efetividade de uma denominada governabilidade, seu partido teve que se aliar ao fisiologismo das forças políticas mais retrógradas, clientelistas e causadoras das desigualdades históricas desse país. Em uma eleição para o governo de uma unidade da federação, a senhora subiu ao palanque de... 4 candidatos? Isto não é apoio, isto é um descompromisso total com qualquer posicionamento político e completo desrespeito aos cidadãos de tal estado, pois não há possibilidade de "derrota", somente a contemplação dos interesses dos muitos "aliados" e que precisam estar na agenda de cargos do governo. Não irei nem comentar sobre os financiadores/investidores de sua campanha, dos aliados e dos opositores. 

Minha desesperança se amplificou ao verificar o seu silêncio pessoal, que também representa um silêncio político e representativo, à imensa repressão policial aos cidadãos que foram às ruas nas Manifestações de Junho de 2013. Ao silêncio à fúria assassina das Polícias Militares em todo território nacional. Ao silêncio ao espancamento coletivo a que professores foram submetidos nas ruas do Rio de Janeiro, por exemplo. Ao envio da Força Nacional para o impedimento de protestos contra o leilão do pré-sal. E por fim ao maior aparato de repressão policial e militar ocorrido no Brasil desde a ditadura militar no período da Copa do Mundo 2014, onde ao seu final tivemos 28 presos políticos em um inquérito policial que denunciava um anarquista nascido a 200 anos, Bakunin (obviamente... morto) e a constituição de um processo fictício, mas com mais de 2.000 páginas e lido em 20 minutos por um juiz. Seu Ministro da Justiça relatou que foi um procedimento legal. A presidência do seu partido, o PT, disse que as prisões eram inadmissíveis. Quem estava certo? A senhora em nenhum momento respondeu.

A desesperança se confirmou ao perceber que a política econômica, apesar dos importantes programas sociais, ainda está pautada no exacerbado rendimento de uma pequena elite, de bancos privados e do mercado financeiro. Onde a política fiscal arrocha a grande massa trabalhadora em um sistema de recolhimento piramidal e proporcionador de mais desigualdades. A tabela do imposto de renda, defasada mais de 100%, pressiona ainda mais a classe média, que demonstrou todo seu descontentamento nestas eleições. A desesperança se deu ao ver que os interesses ruralistas se sobrepuseram aos interesses de uma agricultura sustentável, da reforma agrária e dos interesses dos reais donos dessa terra: os índios. Que os interesses ultra-religiosos se sobrepuseram aos direitos de todas as orientações sexuais. Que o falso moralismo se sobrepôs à vida das mulheres. Que o discurso da guerra às drogas se sobrepôs à vida de milhares de jovens negros e pobres  

Mas e a esperança? Sim, ela existe. Anda pouca. Pequena. Mas ainda persiste.

A esperança surge na possibilidade de que a senhora, Presidenta Dilma, e seu partido, o PT, voltem de onde vieram, voltem às ruas, aos protestos, às indignações. Vocês deixaram de se indignar e terceirizaram a indignação. Voltem de onde vieram, da esquerda. Que as vozes das ruas entrem pelos corredores do Palácio do Planalto e insufle-os para o combate no Congresso, que sabemos representar os interesses mais conservadores e elitistas deste pais.

Ela, a esperança, emerge da necessidade da reforma política para a governabilidade, porque sem ela, a senhora pode ter certeza, não haverá sossego. Da ampliação da democracia, sua radicalização. Da ampliação da atuação política para além da representação. Da urgência da regulação da mídia, não de seu conteúdo, mas de seus donos, da desconcentração do oligopólio das empresas de comunicação, pois as maiores vítimas somos nós, população com grande déficit educacional e cultural e a senhora, que viu uma das mais grotescas articulações e manipulações para o impedimento da democracia. As empresas de mídia que persistentemente mentem e difamam precisam sofrer as consequências de seus atos, porque, hoje, absolutamente nada acontece a estes poderosos interesses.

A esperança se revigora ao verificar que precisamos repensar o Poder Judiciário, através da reforma política, em que este poder não pode se resumir a um reino estamental, onde se legisla em proveito próprio, onde vive-se totalmente separado de todo o restante do país. O Judiciário brasileiro pode ser qualquer coisa, menos justo. Necessita de algo que o próprio prega, mas que em nenhum momento pratica: a democracia. O Poder Judiciário brasileiro necessita de um banho de democracia. A reforma política necessita incorporar também esta tarefa.

Presidenta Dilma, o desafio é grande, imenso, talvez até mesmo impossível de se completar em 4 anos de governo, mas que precisa se iniciar para já, para amanhã. Peço que o PT esqueça 2018, que esqueça a possível candidatura de Lula, que esqueça o depois e que se foque no presente, para que nunca mais, mas nunca mais, o medo vença a esperança.

Presidenta Dilma, parabéns pela reeleição, e indico que serei um dos primeiros às ruas a bradar se for necessário, contra ou a favor da senhora, porque só assim a esperança poderá voltar à minha vida e às vidas de todos os brasileiros. 


Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF e atualmente é professor titular em sociologia do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.



Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Um comentário:

Unknown disse...

Genioso e de certa forma reverente , parabéns muito boa argumentação.

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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