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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"Mas não podemos generalizar..."




























Albert Einstein no início do século XX revolucionou a física moderna com sua teoria da relatividade. Tudo mudou. O mundo se redefiniu através da percepção que mesmo na Natureza mais desconhecida, na grandeza do Universo, dificilmente poderemos afirmar que algo é absoluto, que uma certeza poderá ser insoluvelmente verdadeira. As teorias da Mecânica de Newton, oriundas ainda do movimento do Renascimento e propulsoras do Iluminismo, tiveram que ser revistas e o próprio sistema filosófico cartesiano* passou a ser questionado a partir de então. A ciência, que através dos ideais do Iluminismo, poderia substituir as religiões na busca humana pelas leis universais e pela verdade, teria que refletir e repensar suas próprias limitações epistemológicas.

Esta pequena introdução aos alicerces da Física é para confirmar que nenhuma generalização é realmente possível. Todas as coisas e afirmações passam pela crivo da relatividade, seja na Natureza, seja pelas diferentes percepções sensoriais humanas.

Outro fato importante é perceber que grandes teorias e cosmologias sempre fizeram parte do imaginário humano coletivo e individual. Sabemos que o homem medieval tinha sua vida inteiramente pautada e vivida pelos ensinamentos e visões de mundo construídos pelas teologias dominantes. Com o avanço da ciência e a substituição das religiões como principais explicadoras do mundo em relação à primeira, os conhecimentos científicos também passaram a interagir com as dinâmicas sociais e na constituição das personalidades. A racionalização dos sistemas educacionais, o planejamento urbanístico, a higienização urbana e social através do avanço da biologia e da medicina, e a valorização das individualidades a partir da psicanálise são alguns dos exemplos que posso dar sobre a retroalimentação entre produção filosófica-científica e a própria reprodução humana, sem nos esquecermos da continuidade da influência religiosa e metafísica neste complexo tripé.  

Isto tudo para dizer que: Não! Não podemos generalizar nada. Nada. Nadinha da Silva. E isto é uma grande virtude, pois é o pressuposto fundamental de que temos a capacidade e a preocupação perene de relativizarmos tudo o que nos é próximo e tudo o que nos é também distante. A habilidade de percebermos o outro, a alteridade.

Portanto ciência e senso comum se entrelaçam em nosso dia-a-da, e isso já faz algum tempo. E só para relembrar que este senso comum trata-se de nossos conhecimentos prévios e/ou atuais e que utilizamos cotidianamente para a realização de qualquer tarefa, em uma conversa informal, em um planejamento temporal, em uma escolha em quem confiar, votar, amar, em uma fé corriqueira, em uma crendice, em tomar um remédio por acreditar que ele irá lhe fazer bem, mesmo fazendo ou não. Este senso comum não é o falso, ou mentiroso, mas ele opera sem as obrigatoriedades metodológicas e éticas do que chamamos de conhecimento científico ou de objetividade científica. 

E dentro do escopo da vida social há a incorporação de certos termos e chavões científicos, ou até mesmo filosóficos, que encontram ressonância na gramática popular e resultam em produções que quase sempre nem mais se relacionam com o enunciado original, perdendo seu sentido primeiro e ampliando outras significações. Significantes e significados se alterando mutuamente. As palavras e as coisas, coisas e palavras.  

Um destes termos anda sendo muito utilizado por bocas brasileiras nos últimos tempos. É o "mas não podemos generalizar...". Fico feliz que nosso povo tenha incorporado em sua dinâmica social um reconhecimento do relativismo. Porém ao mesmo tempo isso me traz uma grande preocupação sobre qual o sentido que tal termo realmente se refere. Infelizmente em nosso senso comum popular, e também no que consideramos os "estratos superiores" da sociedade, o "não podemos generalizar" tornou-se um guarda-chuva teórico-filosófico-frase-feita para justificar o injustificável.   

Se as Polícias Militares em todo país em suas institucionalidades transgridem qualquer ideia primária de direitos humanos, ouvimos logo seus defensores bradarem o "mas não podemos generalizar". Se médicos por todo o país têm atitudes racistas e elitistas através de manifestações públicas e classistas, o "mas não podemos generalizar" surge com toda força. Quando fica evidenciada as intenções de manter oligopólico e familiar o poder da grande mídia, da mídia confundida como corporação, onde o jornalismo é utilizado como ferramenta de subordinação da opinião pública e controle social, não há momento em que não se diga o... "mas não podemos generalizar". A ideia de que INSTITUIÇÕES possam representar ideários  anti-democráticos  e excludentes é muito doloroso para se admitir materialmente e simbolicamente, principalmente quando se faz parte destas instituições, então temos a busca da atomização pelo indivíduo, para que se amenize a sua própria posição institucional diante da óbvia prática/valores da instituição ou classe profissional à qual se pertence.

É óbvio que não podemos reduzir as pessoas às suas instituições. Mas "não generalizar" não pode mais esconder as motivações as quais certas representações atuam e significam claramente. 

Então declaro neste momento, mesmo com a subversão e a dificuldade de subtrair-me de minha formação profissional e científica como sociólogo e professor, que irei generalizar:

Mesmo que nem todos os policiais militares estejam incluídos, a Polícia Militar é uma instituição assassina, torturadora, transgressora dos direitos humanos, e que não possui nenhum compromisso com seu lema jurídico de "servir e proteger", mas com a real função dada pelo Estado de "controlar, reprimir e exterminar".

Mesmo que nem todos os médicos estejam incluídos, a "classe médica" brasileira é formada por profissionais que não têm nenhum interesse por salvar vidas dos pobres ou pela saúde coletiva, buscando muito rapidamente de volta o alto investimento realizado em suas faculdades particulares, atuando de maneira desleixada em clínicas e consultórios do SUS ou em planos de saúde para pobres, e até mesmo para a classe média. Negando-se a atuar em localidades distantes e pauperizadas, e nos rincões do Brasil profundo, mas observando a chegada de médicos estrangeiros para fazer o trabalho que ela classe médica não quer, chamando-os de... "escravos".

Mesmo que nem todos os jornalistas estejam incluídos, a grande mídia brasileira é formada por profissionais que têm como principal missão reafirmar seus valores de classe, garantindo o lucro e os interesses de seus patrões e das empresas em que trabalham, mentindo, vilipendiando, não investigando realmente, usando de deslealdade com companheiros de profissão por mesquinharia e ego.   

E em um último exercício de generalização, deixo em aberto a vocês mais um: me julgar.

*René Descartes (La Haye en Touraine, 31 de março de 1596 – Estocolmo, 11 de fevereiro de 1650 ) foi um filósofo, físicoe matemático francês. Durante a Idade Moderna, também era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, foi também uma das figuras-chave na Revolução Científica. FONTE: Wikipedia.

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF e atualmente é professor titular em sociologia do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense. 


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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