Não tenho mais casa. Minha casa é meu corpo. Não há mais terra. Nem chão. Meu casulo é minha alma perdida, em transição. Não sei mais onde estou e para onde o nariz aponta. Aponto o nariz para qualquer lugar. Para algum lugar. Não tem mais casa, nem quarto, nem colchão. E não há muitas pessoas em quem confiar. Confiança é artigo raro hoje em dia. Confio no vento. Nos sussurros mudos dos autênticos amigos. No sorriso da criança. No abraço apertado, bem apertado. No beijo de olhos fechados. No aperto de mão firme e confiante. Do olho no olho demorado, profundo. Confio na saudade que faz o coração apertar. Na intuição cada vez mais presente. Na sensação de que, às vezes, as coisas erradas se mostram por si só. É só estar atento para percebê-las e enfrentar. Não tenho mais casa. Meu espírito corre solto, um tanto confuso, esbarrando entre os inimigos para se encontrar. Não tem mais casa, mas tem fortaleza. Tem a força brava da certeza, da justiça e da bondade. A firmeza que a todo momento a verdade estará lá. De vez em quando escondida. Nos preâmbulos. Nos vãos. Nos cantos escuros. Mas ela não tarda a se mostrar, ah não. Não tem mais casa. Tem castelo. Com paredes fortes. Tropa agrupada. E vai ser difícil, bem difícil, a maldade entrar, ah vai!
(para Theo)
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4 comentários:
Eu te dou abrigo, meu bem...
Parabéns, lindo texto! Por coincidência uma das minhas músicas favoritas no momento chama-se casulo.
E eu particularmente adoro essas "coincidências" da vida... :)
Abraços
Meninas, fico extremamente lisonjeado pelos comentários. Obrigado.
Lara, não vou dizer "isso passa". Mas posso dizer para você ao menos se apegar ao que você ama. Mesmo que sejam poucas coisas, ou pequenas coisas. Tente canalizar sua tristeza e melancolia na arte, por exemplo.
No meu caso, quando estou triste, vou pra frente do computador ou do papel em branco, e escrevo. Às vezes pode sair coisa boa, às vezes não. E não precisa ser só literatura. Pode ser qualquer outra coisa. Já tentou?
Tenho alguns textos super fofos e otimistas mas que foram feitos em meio a uma tristeza danada. A arte me mantém vivo, essa é a verdade. E isso não é balela de poeta não, é fato.
Bom... melhoras pra você.
Besos.
Alma e coração leves pra poder o vento levar, amigo.
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