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terça-feira, 23 de setembro de 2008


Emmerdale - The Cardigans

Stockholm Records (1994)


Produtor: Tore Johansson



Quando esse álbum foi lançado eu tinha 15 anos e não tinha a menor idéia que um grupo sueco cantando em inglês estaria laçando uma das compilações mais bacanas que já ouvi, principalmente se relacionada às músicas características e fomentadoras dos anos 1990. Naquela época eu estava começando a me aprofundar nos caminhos da música popular brasileira. E não me arrependo.

Não lembro muito bem o porque de meu interesse pelos Cardigans, e esse interesse é relativamente recente. Sei que desde a minha primeira audição da ultra-mega-popular canção Lovefool, algo despertou esse interesse. Esta música fez parte da trilha sonora (e é tema dos protagonistas) do remake modernoso Romeu e Julieta, com o Leonardo di Caprio, e foi, como disse acima, um mega sucesso. A canção tem um quê de falsa bobice, com Nina Persson (vocalista da banda) cantando com uma voz propositadamente infantilizada e um arranjo que remete o final dos 50 e começo dos 60, mas com uma batida e efeitos já contemporâneos. Enfim... a música é deliciosa.

A partir dessa descoberta fui procurar mais coisas sobre a banda, e gostei. Desde o primeiro álbum, justamente Emmerdale (1994), ao último, Super Extra Gravity (2005), há uma qualidade consistente nas músicas do conjunto de cabelos amarelos. A banda tem uma trajetória segura e relativamente regular dentro do cenário pop. E após ouvir quase todas as canções de todos os discos cheguei à mais sincera conclusão: o melhor mesmo é o primeiro.

Emmerdale (1994)
aponta para uma sonoridade que se tornaria característica para algumas bandas dentro do cenário pop internacional. O rompimento com as experimentações dos sintetizadores dos anos 80 estava claro. Aquela batida seca e forte com letras bem-humoradas ou cínicas também seriam deixadas de lado. Óbviamente que as sonoridades e a(s) música(s) não respeita(m) marcos e datas, os processos e permanências convivem com as novidades.

Os Cardigans trazem à tona uma busca por uma densidade nas letras, quase sempre baseadas em uma uma tristeza persistente (eles são suecos, lembremos) e conjuntamente com essa melancolia criam arranjos pautados em suavidade e sutileza, porém mantendo a tradicional base instrumental do pop-rock: guitarra, baixo, bateria, teclados. A voz doce de Nina ilustra e acentua as notas dessa melancolia, os timbres e climas dos arranjos fazem de acordes e letras unidades harmoniosas. Isso tudo sem perder o apelo pop, o refrão, o assobio da melodia, o rítmo forte da bateria em algumas canções. Talvez a banda norte-americana Weezer seja um paralelo interessante desta época, do início dos anos 90, levando-se em conta todas as particularidades.

Esse pop dos Cardigans foi denominado por muitos como Indie-Pop. É, pode ser. Não me oponho. Porém o caminho iniciado pelo primeiro álbum foi mudando com o tempo. Nada mais natural. Hoje a banda faz um som mais próximo de um Folk-Rock-Pop, ou qualquer outra coisa parecida com o significado que quis buscar com essa sigla. Uma sonoridade baseada em violões de aço e levadas com divisões mais regulares dentro das faixas, com Nina cantando de uma maneira um tanto blusy, quase Country-Rock. Não confundir com blasé. Essa mudança é fundamental para o crescimento de qualquer banda ou artista, mas olhando o percurso e ao caminho trilhado e escolhido, ainda prefiro, pelo menos para eles, o ponto de partida.

O álbum abre com Sick & Tired (Peter Svensson/Magnus Sveningsson)
falando de tristeza e doença, mas com uma incrível levada de cordas, violões e guitarra, e teclado, pautados por uma triste flauta e metal, possívelmente um flughorn. Em Black Letter Day (Svensson/Sveningsson) ouvimos mais melancolia, com um baixo acentuado, teclados e vibrafone, o refrão é lindo e pontuado por guitarra dedilhada e mais vibrafone, um trompete também se faz presente lindamente. In the Afternoon (Svensson/Sveningsson) é uma balada sobre uma tarde triste, arranjo com flauta e a voz doce de Nina contagiando os olhos, marejando-os. Rifs, vribrafone, efeitos de teclado, todos lindamente unidos, música sobre a chegada do inverno e seu clima soturno, contudo sem perder a beleza. Com Over the Water (Svensson/Sveningsson) o rítmo acelera um pouco e temos uma flauta "peruana" infiltrada na canção. Delírios, navios, naufrágios, portos, voar e gritos de socorro, elementos de um quase afogado sonhador. Agora aponto para uma das canções de amor mais lindas que já ouvi nos últimos tempos. União perfeita entre melodia e letra, com um diálogo entre piano e guitarra simplesmente emocionante, estou falando de After All... (Svensson/Sveningsson). Simplesmente linda. Cloudy Sky (Svensson) abre com violoncelo e letra feliz, baladinha pautada por uma boa levada de guitarra e promessas de cores e céu azul, inclusive com anel dourado, nada de chuva.

Na "segunda" parte do álbum abrimos com a canção Our Space
(Svensson/Sveningsson), também com letra romântica, fala sobre medo e relacionamento a dois, com trompete interessante e nada demais no restante da faixa. Rise & Shine (Svensson/Sveningsson) é a música mais famosa e tocada do álbum de estréia dos Cardigans. Afirmo com uma certeza digna. Balada ótima com letra esperta e vibrante. De vez em quando me pego cantando "Rise & shine, rise & shine my sister...". Agora falaremos da grande canção do disco: Celia Inside (Svensson/Sveningsson). Simplesmente deslumbrante. É como se um dia frio de primavera, logo ao amanhecer, pudesse ser traduzido em uma canção, e foi. A letra que diz "so you should give them just what they need, water and poetry" traduz a lindeza do significado, Água e Poesia. É exatamente isso o que queremos para nossas vidas: Água e Poesia (pelo menos o que quero para a minha). E toda a sutileza que o "pedido" traz consigo. Me emociono toda vez que ouço essa canção. Imperdível.

Sabbath Bloody Sabbath
(Geezer Butler/Tony Iommi/Ozzy Osbourne/Bill Ward) é a prova que o Rock também corre nas veias dos suecos, regravação de uma canção da banda Black Sabbath com Ozzy Osbourne nos vocais. Opção bem mais pesada do que o som produzido por nossos amigos nórdicos. Versão em uma baladinha veloz, graciosa e bacana, com solo ótimo de guitarra e contra-ponto com teclado e virafone, leveza pura. Juro que vou procurar a versão original e tentar perceber as diferenças, que espero serem grandes, ou não... Letra existencialista e contestadora. Seems Hard (Svensson) abre com trombone e sinos de forma suave, caminhando para a apoteose do trompete e metais em um refrão falso, e depois retorna para a primeira parte da melodia. Letra que se põe em dúvida pelo que se sabe, ou não se sabe, melhor deixar pra lá. O que conta mais é o arranjo de metais e o final surpreendente, onde todos os instrumentos se misturam quase estourando o volume da caixinha de som e os tímpanos dos ouvintes. Nada melhor do que uma canção chamada Last Song (Sveningsson) para finalizar os trabalhos. E a letra fala de um suícidio, da perda de uma amiga, tristeza, e as estações do ano servem de cenário para quem ficou lembrar de quem se foi. Os suecos não poderiam encerrar o álbum de outra forma. Arranjo orquestral, violoncelo e as cordas delineando a melodia, a voz de Nina mais triste do que nunca, sino soando, uma tristeza traduzida em saudade cantada. Fim do álbum.

Recomendo. É bonito, bem feito, boas letras e melodias, bem cantado e arranjado. Em 2007 ficou por muito tempo em meu mp3. Descubra!

Melhor(es) faixa(s): Celia Inside, After All...
Pior faixa: Our Space.

Observação:
A capa de Emmerdale é uma das coisas mais fofas dos últimos tempos. E tenho dito.

Dêem uma passada no site deles.

http://www.cardigans.com/?sid=default&bfs=1




Besos.

Creative Commons License
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

3 comentários:

palavras sobre qualquer coisa disse...

"Celia Inside

music : svensson
words : sveningsson


you don't want the sun to shine in
so you turn the curtains down
your eyes still don't show me a thing
and you don't feel it's sunny outside

you don't want no joy for a while
but you stay up late at night
it hurts you that she's still alive
so you'll raise flowerbeds inside

but she, she won't get bothered at all
she's just watching the water at fall
so you should give them just what they need
water and poetry
cause she will not bother at all
she's just watching the water at fall
you should give them just what they need
cause she will not bother at all
but you won't say you're not adored by her beauty, celia inside

you don't want to feel her at all
but who's that fellowman of hers
with who your dear celia moved
and they'll sleep happily inside

...and her purity, and her lovely, celia inside".


Besos a todos.

palavras sobre qualquer coisa disse...

Observação: A música não está inteira no radinho porque há restrição para sua divulgação pública, é por isso só tem um trechinho. Mas acho que dá para ter uma idéia que a música é uma graça.

Nossos famosos e ardilosos direitos autorais.

É isso.

Besos.

Carol Leocadio disse...

Engraçado. Também fui viciar em Cardigans em 2007.

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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