Recebi alguns dias atrás o email de um amigo que já contribuiu com um belo texto aqui no PSQC, o "O próprio opróbio", na secção CONVIDADOS. E não é que para minha surpresa essa mensagem veio com dois textos dedicados a mim. Não preciso nem dizer o quanto fiquei emocionado com a lembrança e pelo carinho desse amigo.
Acredito que não há melhor maneira ou forma de retribuir suas palavras do que publicizar toda a sua competência intelectual e sensibilidade, que podem ser observadas nos dois textos abaixo. O nome desse amigo?
Rodrigo Viegas
Vamos às suas palavras:
Mundo a-crítico (título dado por Vinícius Silva)
Revolvendo a merda fóssil,
Perscrutando dias escuros.
Talvez perguntareis por mim.
Filho do anunciado fim da história, das ideologias, das classes, da modernidade.
Vivendo a sociedade do espetáculo, o sinoptismo, o desencaixe espaço-temporal, a Ágora desvitalizada pelo público colonizado pelo privado.
O que outrora era pesado, fixo, tornou-se fluido, volátil.
O corpo, de rijo, saudável, virou flexível, estético.
A mente, de comparativa tornou-se relativista.
A doxa funcional e estrutural deu vez ao sistema, a rede, ao inter-relacional.
O justo deu lugar ao eficaz.
Nesse pouco admirável mundo novo, os inseguros, instalados comodamente na apatia e no hedonismo, têm apenas a atitude de atuar contra seus melhores juízos.
Débeis de vontade e desesperados ante a debilidade de seus referentes morais, enfrentam-se consigo mesmos: não são indivíduos unos, senão múltiplos e, por essa razão, seus próprios inimigos.
Teleologicamente cabe a cada indivíduo fazer constantes opções no árduo dever de criar sua auto-biografia.
Os fins já não justificam os meios. Num mundo desencantado, o vazio e a dor da desfiliação faz crescer a farmaco-danação.
Se encontrares a merda fresca,
E prescrutares dias incertos.
Pergunte por mim!
Pergunte pelo eunuco em plena apologia da ereção.
A segunda vai para o cara sensível, carinhoso, honesto e sincero. Por você ser assim, acredito que entenderá a grande dificuldade de um toque verdadeiramente sincero, de um abraço sincero.
O toque do abraço
Não me toque!
Não me abraces!
Se for só por fazer
Se for só demonstrar
Que aquilo que se dá, se recebe; aquilo que se recebe, se dá.
Não me toque!
Não me abraces!
Se não houver carinho
Se não for verdadeiro
Se não for pra me sentir
Se não for pelo prazer
Que aquilo que se dá, se recebe; aquilo que se recebe, se dá.
Não me toque!
Não me abraces!
Quando um aceno for o suficiente
Quando um aperto de mão já baste
Quando é só preciso constar
Que aquilo que se dá, se recebe; aquilo que se recebe, se dá.
Não me toque!
Não me abraces!
Se não for por mostrar que não dá pra traduzir no olhar
Se não for por mostrar que não dá pra traduzir em palavras
Se não for por mostrar que a distância
Entre aquilo que se dá e se recebe
Não mais existe
Perdeu-se na troca
Perdeu-se no toque
De um abraço
puro,
sincero,
pleno.
Um abraço puro, sincero, pleno de quem está sempre te acompanhando nas palavras
Rodrigo".
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Rodrigo, muito, muito obrigado.
Besos.