quarta-feira, 20 de maio de 2009
não há nada a dizer, o poema
espremam-se vermes! nos cantos das valas.
nas beiras das encostas. aquietem-se em seus gritos
surdos. porque aqui ninguém há de escutá-los.
ouvidos não há!
não há nada a fazer.
aglomerem-se em esperanças vãs.
de dias cheios de alegria. de contentamento.
mas o que irá restar são somente mãos cálidas de lutas
inglórias, e fome, e miséria.
não há esperança.
a crueldade é perpetuada historicamente. e essa evolução
de maldade há de continuar.
porque os mantêm na barbárie.
afastados de sua capacidade de decidir.
de saber.
de escolher.
são desterrados de suas próprias almas.
não há redenção por esperar.
parem de gritar! é vão! chorem por suas crianças mortas
em pias, em privadas, latrinas. porque nada há de mudar.
porque não querem.
porque iludem os olhos.
porque ouvem a música.
porque lacram as lágrimas.
essa revolta revoltada e sorumbática serve
somente para os que realmente não sofrem.
para os que fingem.
para os que fingem sofrer.
calem-se!
morram felizes,
pois na próxima vida tudo poderá melhorar.
não gritem por justiça.
ela não há!
não há nada a dizer.
vão dormir! pobres mudos, imundos.
mas junto-me a vocês, nesse lamento inaudível,
pessoas que nasceram na lama e que para ela voltarão.
não há nada mais a aguardar.
não. não há nada a dizer.
não há nada.
não há.
não.
ar.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.
O autor
Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.
O CULPADO OCUPANDO-SE DAS PALAVRAS
Contato
Secções
O PASSADO TAMBÉM MERECE SER (RE)LIDO
AMIGOS DO PSQC
As mais lidas!
-
Lara surgiu do nada lendo um meu poema, e ainda assim me acha uma pessoa serena, mas que ingênua! Lara é sentimental e de maneira imatur...
-
No país do Grupo Globo, da Folha de S. Paulo, do Estadão, das outras tevês abertas e corporativas, do Grupo Abril e sua revista Veja...
-
Ao longo da infância e adolescência nossa compreensão da realidade é profundamente marcada pelo lugar onde vivemos e damos nossos prim...
-
sempre quis que o tempo fosse mais curto como um Rimbaud a produzir sua obra prima na juventude mais tenra que a genialidade escorresse...
-
Todo dia que entro no metrô, me apaixono. Um segundo de olhares me arrancam suspiros, estando apto a torpedear a pessoa com olhares obscenos...
Um comentário:
Poema altamente reflexivo. Teve uma sensibilidade incrível ao por ela ai. Espero ler mais desses aqui nesse blog amigo Vinicius;
grande abraço
Postar um comentário