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quarta-feira, 23 de julho de 2014

O corpo morto

Já velei e enterrei muitos corpos. Muito mais do que gostaria, menos do que irei velar e enterrar ainda. Uma lição aprendida pelos ensinamentos de minha mãe é que se podemos estar juntos nas alegrias, então temos a obrigação de estarmos juntos na partida, final. Mas por que ir ao morto se morto ele está? A morte é a morte, mas a morte é também um ritual. Um ritual onde os olhos se cruzam, os encontros acontecem, as lágrimas brotam, os sussurros são ouvidos, os gritos são lancinantes.

Já velei e enterrei parentes, amigos e vizinhos. Para cada um desses rituais, para cada uma destas despedidas, um sentimento único, pois cada corpo morto reflete o que se sente sobre ele. Já chorei sobre caixões, já peguei nas mãos, já beijei o rosto, já acariciei os cabelos, já segurei a emoção, já calei, já chorei no dia seguinte, já morri um pouco com todos eles.  

Talvez o que mais me incomode em nosso eterno desconhecimento sobre a morte é o sentimento de pena pelo corpo morto, como se ele em si fosse indigno por ter morrido. Explico. Um corpo morto não é inteiro, é parte de algo que existiu em sua completude, em sua totalidade, mas que agora jaz em uma parcialidade degenerativa, finda. Mas nossos olhos nos enganam, e pensamos que eles estão ali sãos, e que podem acordar em um breve abrir de olhos depois a uma fiel súplica ao pé do ouvido. Não, não acordarão, não reviverão.

Digo isto porque acredito que não devemos sentir pena daquele corpo, porque quem se foi não é responsável por sua própria morte, mesmo quando é, no caso dos que escolhem partir por si mesmos. Pena não é um sentimento nobre que possamos transmitir a quem um dia amamos, respeitamos ou conhecemos. A questão é que o corpo morto revela toda a nossa finitude, o corpo em si demonstra para nós o quão à merce ficaremos depois do fim da vida. Talvez esta sensação apenada seja a percepção de nossa própria fragilidade diante da existência.

Então choremos, desesperemos a falta, a saudade, a brevidade de quem queremos sempre ao nosso lado, para o impossível sempre.

Mas sem ter pena de quem partiu.
Porque em nossas lembranças e lágrimas, devemos ter sentimentos mais belos para nossos mortos.
Eles merecem.  



Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Um comentário:

Lara Cervasio disse...

Eu continuo me espantando com os sentimos que tenho ao ler alguns textos seus.

Hoje acordei meio estranha. Com saudade da minha avó, e sofrendo pela perda do meu primo.

E depois de muito tempo resolvi vir aqui e me deparo com um texto desse. É algo que me espanta isso. rs

Não tenho religião, embora creia em algumas coisas, além de Deus. Meus choros e súplicas ao pé do ouvido (do corpo em quentão) não são de pena e sim de dor, de inconformabilidade. Mas pena não, pena sinto das pessoas que ficam.

Enfim...

Beijos.

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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