Às 10:30h do dia 19/11/2009 tentei entrar em uma agência da Caixa Econômica Federal para assinar a escritura e o contrato de financiamento do apartamento que comprei junto com minha noiva. Fiquei preso na porta giratória. Já tinha decidido há algum tempo que não permitiria ser humilhado publicamente, quase tendo que mostrar minhas roupas íntimas (cueca) a um banco pelo qual eu iria PAGAR pelos serviços.
Após ficar preso à porta, decidi ligar para o 190. Já tinha colocado todos meus objetos metálicos na caixinha da porta, mas não tinha aberto minha mochila por saber que não sou obrigado a fazê-lo e por entender que não havia nada dentro da mochila que impedisse da porta girar, somente o dedo do segurança no controle remoto, travando-a. Falei rapidamente com a Polícia Militar (lembrando que estava na Cinelândia, Centro do Rio, e se estivesse em um bairro do subúrbio ou da Baixada, com certeza não haveria tanta presteza).
Mas algo aconteceu. Minha ante-cidadania, minha covardia de ser cidadão falou mais alto. Intimidado pela fala agressiva do segurança, pelo nervosismo da minha noiva, pelo meu medo de algo de ruim que pudesse acontecer, abri todas as abas de minha mochila, onde só continham... papéis. Papéis que provavam somente o professor que eu sou.
Passei pela porta, subi ao segundo andar da agência. Ordeiro, pacato. Subi para assinar meu contrato e PAGAR pelos serviços de assessoria da Caixa (por uma rápida pesquisa feita pela internet para saber se posso ou não ter crédito, pagamos R$ 400, 00 reais). Por incrível que pareça a polícia apareceu. Escutei o segurança dando alguma prestação de contas ao policial que queria saber o que tinha acontecido. E permaneci sentado, lá encima, ordeiro, prontinho para PAGAR pelo meu bem, como bom cidadão que sou.
Enquanto estava sentando ao lado de minha companheira, senti aquela sensação amarga na boca. Aquela vontade de tudo quebrar, de tudo gritar. E o gosto azedo das palavras que me perseguem desde aquele momento: COVARDE, COVARDE.
Algo está fora da ordem. Ou eu não mereço esse país, ou ele não me merece.
COVARDE, COVARDE.
Ainda queima em meus ouvidos.
COVARDE.
Agência da Caixa Economica Federal- Cinelândia/RJ.
Praça Floriano.