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domingo, 5 de dezembro de 2010

No meu enterro


No meu enterro eu quero choro e vela. Não é necessário uma quantidade grande delas. Uma já é suficiente para iluminar a alma que partiu, a minha. Quero choro, porque enterro sem choro é igual à despedida de sogra, todo mundo quer, rindo, que ela vá embora e de preferência bem rapidinho. Quero a presença da mulher que eu amo. Quero meus amigos, todos os poucos que tenho. Quero a presença dos amigos que moram perto ou longe. Quero meus filhos, mesmo os que estão brigados e sem se falar. Mesmo que se odeiem. Pelo menos serão obrigados a cuidar do enterro do papai aqui. Não quero que levem meus netos, e quando algum deles perguntar “Cadê o vovô?”, respondam “Foi pro céu!”. Quero que o meu enterro sirva para reencontros, porque nos que fui em vida, isso sempre aconteceu. Velórios e enterros são lugares de reencontros! Onde choros e risos se aninham, eu sei disso. Gostaria que houvesse música, baixinha, ambiente, com as canções que eu mais gostei de ouvir em vida, e que certamente continuarei gostar de ouvir em morte. Pode ter reza, todas, todos os cânticos e preces. Não quero pastor evangélico gritando no meu velório, mas orando baixinho pode. Não quero que na tampa do meu caixão haja uma cruz. Meu coração parado será de todas as crenças. Quero uma tampa lisa, simples, onde as pessoas possam depositar alguma palavra, um bilhetinho, uma carta de amor ou de adeus. Quero rosas, rosas amarelas, quero que as flores fiquem à altura do quadril, para que as pessoas possam segurar nas minhas mãos. Quero rosas amarelas, pois minha vó Lilia gostava delas, e assim, em minha morte poderei homenageá-la por sua vida. Quero carinhos no rosto e beijos nas bochechas, mesmo que frias. Peço que mandem os recados para os parentes que se foram em meu ouvido surdo e morto, pois juro que tentarei notificá-los dos pedidos, desejos e saudades. Quero cortejo ao meu corpo, quero cal encima do caixão e quero que uma última pessoa aguarde o último grão de terra selar minha sepultura. No meu enterro eu quero choro e quero vela.

(para Lennon).



Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

2 comentários:

Lara Cervasio disse...

Nossa! Profundo demais esse.

Me emocionei bastante. Fiquei imaginando como eu quererei meu velório.
Acho que também iria querer que chorassem, mas que fossem lágrimas sinceras, não por pena, nem por ver um morto. Quero os choros que eu chorei em todos os enterros que fui, de dor, saudade, de saber que nunca mais poderei abraçar...

Embora eu queira doar todos meus órgãos (possíveis), com isso não sei como será o velório. Se mesmo assim tiver, quero que vá todas as pessoas que foram importantes na minha vida, até mesmo aquelas mais distantes. Como não sei o que acontece depois da morte; vai que consigo me despedir de cada uma, mesmo que não seja recíproco?!

Vela, flor... Pode ser qualquer uma. Roupa, cachão, a mesma coisa. O que realmente importa, pra mim, é poder doar os órgãos, poder fazer algo bom, dá esperança à alguém.

E paremos de falar de morte, vai! rs

Beijos.

palavras sobre qualquer coisa disse...

Que enterro trabalhoso da porra que eu arrumei! Futuros filhinhos, se preparem... rs.

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O autor

Vinícius Silva é poeta, escritor e professor, não necessariamente nesta mesma ordem. Doutor em planejamento urbano pelo IPPUR/UFRJ, cientista social e mestre em sociologia e antropologia formado também pela UFRJ. Foi professor da UFJF, da FAEDUC (Faculdade de Duque de Caxias), da Rede Estadual do Estado do Rio de Janeiro (SEEDUC) e atualmente é professor efetivo em sociologia do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou e administra o Blog PALAVRAS SOBRE QUALQUER COISA desde 2007, e em 2011 lançou o livro de mesmo nome pela Editora Multifoco. Possui o espaço literário "Palavras, Películas e Cidades" na plataforma Obvious Lounge. Já trabalhou em projetos de garantia de direitos humanos em ONG's como ISER, Instituto Promundo e Projeto Legal. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias: (in)contidos. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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