Prefiro ser um insone saudável. Meus pais carregam, há tempos, o vício dos comprimidos. Apesar de todos esses anos de noites em branco e cores, belas películas (algumas não tão belas), poemas e alguns filmes pornôs, não adentrei ao mundo dos narcotizados por princípios ativos que levam ao sono irresistível e acachapante. Talvez eu seja burro. Minha qualidade de vida deveria estar bem melhor se me utilizasse deste expediente.
Mas começo a escrever esse diário, e esse prefácio, pelo grande mal que as noites de não-sono vêm me causando. E pelas desencontradas explicações médicas que tenho recebido. Algo estranho acontece. Nos dias seguintes às noites de não-sono ou de pouco sono, parece que me transformo em outro sujeito, um outro ser, com uma outra perspectiva e outros olhares. Sei que vocês poderão pensar em todos os efeitos que a supressão do sono pode causar em um ser humano, mas o que falo é de algo diferente, uma sensação que não consigo explicar. Acho que hoje não é um bom dia para falar nisso. Mas sinto que há algo grandioso pela frente, uma jornada com data e acontecimentos marcados para seu começo, ou fim.
Só digo da desconfiança de que algo grave possa estar acontecendo comigo e que a escolástica médica ocidental talvez não consiga dar conta. Não consigo sonhar. E não tenho memórias da última vez que consegui fazê-lo. Isso. Sonhar. Ou mesmo pesadelos. Nada. Nadinha. Este não-acontecimento tem me deixado preocupado. Mas de qualquer jeito deve ser coisa da minha cabeça.
Agora tentarei dormir.
Até.