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Fiz meu curso de graduação em ciências sociais e mestrado no renomado IFCS (Ifiquisss). Oficialmente conhecido como Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Adentrei ao curso no segundo semestre do ano dois mil, porém não sei precisar exatamente o ano em que esta história aconteceu, só sei que foi obviamente antes da morte da personagem principal, que não sou eu e que vocês saberão logo quem é.
Nunca tive tempo para me socializar com meus amigos de curso ou ficar de bobeira no centenário e histórico prédio situado no Largo de São Francisco de Paula, que é nomeado desta forma porque justamente ao lado do IFCS, há a bela igreja de mesmo nome. Nesta praça, ou largo, que possuiu estes dois prédios históricos há também, ao centro, a estátua esverdeada e cheia de cocô de pombo de José Bonifácio de Andrada e Silva, o patriarca da independência.
Mas como estava dizendo, nunca pude tomar uma cerveja com os amigos por três motivos: o primeiro é que eu morava na Baixada Fluminense, e nem sempre podia ficar muito tarde na rua porque teria que percorrer um longe trajeto de volta ao lar; o segundo porque trabalhei durante toda a minha graduação no aeroporto internacional do Galeão, na Ilha do Governador, e tinha que conciliar trabalho e o curso; e o terceiro e mais importante, eu não bebo cerveja.
Esta história começa quando um dia, depois das aulas da manhã, saio correndo para pegar o ônibus e ir para o aeroporto trabalhar. Mas quando desço as escadarias do IFCS, vejo um aparato incrível à minha frente. Muitos utilitários pretos cercavam a praça, e muitas, mas muitas pick-ups da Polícia Militar (antigamente eram as Blazers, não sei se ainda são) guardavam o perímetro. Eu e alguns colegas não sabíamos o que pensar. Seria uma operação militar? Algum bandido fugia? Que chefe de Estado aquele santuário estava recebendo? Ficamos ali matutando... até que de repente vimos um movimento brusco que vinha da igreja de São Francisco, ao nosso lado direito. Algumas pessoas saiam da igreja, homens de terno, óculos escuros e fones de ouvindo, tipo James Bond, e nós lá, intrigados. Porém em alguns instantes, descendo as escadas da construção sagrada surge um senhor, sim, um senhor idoso e calvo, porém parecendo bastante disposto e altivo, moreno, bigode e alguns cabelos brancos. Ficamos reparando, reparando e... matamos a charada! Sim, era ele, ELE!
Ele e sua esposa adentraram a uma das picapes pretas, e seguidos por todos os seus seguranças e também pelos inúmeros carros da Polícia Militar destacados para ali protegê-lo, deu a volta lentamente no Largo de São Francisco de Paula. Alguns de meus colegas decidiram descer para tirar um sarro e foram correndo mostrar o dedo médio para aquele senhor em seu carro preto blindado de vidro fumê. Eu não fui, fiquei mais atrás, mas achei engraçado e fiquei rindo da disposição e da sacanagem deles. Mas por algum motivo não fui e não mostrei o dedo e não xinguei. Fiquei mais distante, observando e pensando, pensando e vendo todos aqueles carros da polícia, todos, muitos, azuis e brancos e suas sirenes vermelhas. Muitos carros brancos e azuis e suas sirenes vermelhas. Carros azuis e brancos e suas sirenes vermelhas.
Mas agora, muitos anos depois, essa história me volta e me vem à memória de maneira clara e límpida, porque, hoje, ela faz todo o sentido, todo o sentido. Quem ali estava? Quem estava ali? Sim, era um chefe de Estado, o Doutor, o Imortal, sim era o...Chefe. Era... Roberto Marinho.