Numa noite dessas fiquei nu. Meu amor não gostou. Perguntei a ela, “Por quê? Pois ninguém me avistou?”. Mas como ser nu, se há milhões de coisas a me cobrir: panos, calçados, cabelos, feridas, partidas, pentelhos, dinheiros, perfumes… palavras perdidas. Fiquei nu ao luar para pegar a toalha. A toalha! Meu amor zangou e falou: “Nada de nu fora de casa!”. Amor, amor… o mais difícil é revelar a nudeza da alma e do espírito, libertar o corpo das amarras da vida e da morte, e vivificar as flores, as lágrimas, e a certeza que para ir e vir é só treinar o olhar, o olhar. Amor fique tranqüila, pois nem seu pai, sua mãe ou sua tia poderão, nu, haver de me encontrar. Só você! Amor, quero trocar a roupa para poder desfilar na passarela do sonho e estrear a nova moda da felicidade imperfeita que é poder respirar. Amor, amor vamos correr juntos pra rua, e pelados, peladinhos, como doidos querubins a berrar: “Nus, estamos nus, e é assim que vamos amar!”. Numa noite dessas…
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