Ramon era o cachorro de meu avô e de minha avó.
Vivia com eles quando eu, meu pai, mãe e irmão nos mudamos para a casa deles.
Quando minha vó morreu eu ainda era muito criança.
Acho que Ramon morreu antes de minha avó.
Não sei a razão, mas acho que ainda recordo da partida de Ramon.
Foi enterrado no quintal da casa de meu tio, em frente à casa do meu avô.
Lembro, eu era criança.
Ele foi enterrado em um saco de plástico, daqueles que são feitos de fiapos entrelaçados.
Acho que era um saco de arroz.
Não lembro.
O buraco foi cavado.
E eu estava ali, criança, vendo adultos sorrindo e conversando, cavando distraidamente um buraco.
Como se nada ali houvesse.
Como se nada tivesse acontecido.
Disso eu lembro.
Seu corpo foi colocado na cova e lembro também de ter visto um pó branco.
Tempos depois descobri que era cal.
Ramon era um vira-lata robusto misturado com pastor alemão, eu acho.
Talvez.
Lembro que eu chorava meio que sem saber o motivo.
Só sei que era criança e que chorava.
Sentado em uma mureta.
Ou em pé?
Não sei.
Só lembro que...
Chorava sozinho.
E sem saber porque, hoje, com 30 anos, revi a imagem de Ramon.
E sem saber porque, novamente, me peguei chorando sozinho.
E mais uma vez, lembrei, talvez, não sei.

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